As cenas vistas recentemente em Colônia, na Alemanha, onde milhares de neonazistas tentaram sequestrar a luta contra o Daesh e a transformar num palanque para a islamofobia e sua agenda racista, são o retrato não só do oportunismo mas também de um medo que ronda os círculos da extrema direita do mundo. O Daesh é a ideologia pregada pelo neofascismo posta em prática: o culto a Idade Média, a militarização da vida, o fetichismo pela morte e a violência, a criação de um império sustentado pela escravização de um “outro” expiatório, o ódio a separação entre política e religiosidade, o retorno da verticalização pelo poder hereditário aristocrático e de líderes espirituais, a imposição de uma tradição, arbitrária, e o extermínio dos desvios dela.
Não muito tempo atrás, um famoso banqueiro suiço, Albert Huber, figura carimbada do movimento neonazista, financiava os salafismos jihadista por sua óbvia simetria ideológica. Não só, se relacionava também com o outro fascismo oriental que, ao contrário dos seus rivais salafistas, se dobra à Europa reacionária: a Irmandade Muçulmana egípcia e suas ramificações, e, principalmente, a ideologia dos aiatolás da teocracia do Irã, chamada por alguns de khomeinismo.
As potências liberais, num movimento similar, deteem o monopólio da crítica ao Irã como forma de instaurar sua agenda política no local. Assim como os neonazistas alemães, no nível simbólico tentam destruir os espelhos que revelam a paridade entre o governo do Irã, com suas execuções hediondas, difusão de grupos paramilitares para desestabilizar e controlar outros países e a manipulação das massas num discurso expiatório de libertação do mundo de um mal transcendental, e o governo dos Estados Unidos, com seus Guantânamos, crimes de guerra, intervenções silenciosas para desestabilizar e controlar outros países e o mesmo discurso expiatório de libertação do mundo de um mal transcendental.